segunda-feira, 9 de julho de 2012

A ronda dos namorados



Estávamos sentadas no chão, fumando, em frente à sala das enfermeiras. Gostávamos de ficar sentadas ali. Conseguíamos ficar de olho nas enfermeiras, desse jeito.
— Com rondas a cada cinco minutos fica impossível — disse Georgina.
— Eu consegui — disse Lisa Cody
— Que nada — disse a verdadeira Lisa, que recém-iniciara sua campanha contra Lisa Cody. — Conseguiu coisa nenhuma.
— Consegui sim, com rondas de quinze em quinze minutos — insistiu Lisa Cody.
— Com quinze minutos, pode ser — disse Lisa.
— Com quinze fica fácil, ora — disse Georgina.
— O Brad é jovem — disse Lisa. — Com quinze, pode ser que dê pé.
Eu ainda não experimentara. Embora meu namorado já não estivesse grilado por eu estar no hospital e viesse me visitar, a encarregada da ronda me flagrara chupando o pau dele e ficara decidido que nossos encontros passariam a ser supervisionados. Ele não me vistara mais.
— Elas me pegaram — eu disse. Embora todas soubessem do flagrante, eu continuava a falar dele, aquilo me incomodava.
— Grande coisa. Elas que se fodam — disse Lisa, rindo.— Foda-se você, fodam-se elas.
— Acho que em quinze minutos ele não consegue — afirmei.
— Sem distrações. Direto ao que interessa — disse Georgina.
— Afinal, quem é que você anda comendo? — perguntou Lisa a Lisa Cody, que não respondeu. — Você não está comendo ninguém — disse Lisa.
— Vai se foder — disse Daisy, que ia passando.
— Ei Daisy — disse Lisa. — Você consegue trepar, com rondas de cinco em cinco minutos?
— Não estou a fim de trepar com esses babacas aqui — disse Daisy.
— Desculpe — sussurrou Lisa.
— Você também não está comendo ninguém — disse Lisa Cody.
Lisa riu. — A Georgina vai me emprestar o namorado dela por uma tarde.
— Bastam dez minutos — disse Georgina.
— Elas já pegaram vocês? — perguntei.
— Elas não estão nem aí. Gostam do Brad.
— Você tem que trepar com um dos pacientes — explicou Lisa. — Dá o fora nesse seu namorado panaca e namora um paciente.
— É, esse seu namorado é um pé no saco — disse Georgina.
— Eu acho ele engraçadinho — disse Lisa Cody.
— Ele é problemático — disse Lisa.
Desandei a choramingar. Georgina me fez um afago.
— Ele nem vem te visitar — lembrou.
— É verdade — disse Lisa. — Ele é engraçadinho, mas não vem te visitar. E de onde foi que ele saiu, com aquele sotaque dele?
— Ele é inglês. Foi criado na Tunísia.
No meu entender, aquelas eram credenciais importantes para um candidato a namorado.
— Manda ele de volta pra lá — aconselhou Lisa.
— Deixa que eu fico com ele — disse Lisa Cody.
— Ele não consegue foder em quinze minutos — avisei.
— Só se você chupar o pau dele.
— Pois que seja — disse Lisa Cody.
— De vez em quando, até eu curto uma chupada — disse Lisa.
Georgina sacudiu a cabeça. — Salgado demais.
— Isso não me incomoda — declarei.
— Você já pegou algum com gosto amargo, azedo... feito limão, só que pior? — perguntou Lisa.
— Alguma infecção da pica — disse Georgina.
— Eca — disse Lisa Cody.
— Que infecção, que nada — disse Lisa — Tem pica com esse gosto, só isso.
— Bolas, que falta faz isso? — eu disse.
— A gente arruma um novo para você no refeitório — disse Georgina.
— Deixa pra lá — eu disse. A verdade era que eu não queria um namorado louco.
Lisa olhou para mim. — Já sei o que você está pensando — disse. — Você não quer um namorado louco, não é?
Constrangida, não respondi.
— Isso se supera — ela argumentou. — Há outra escolha?
Todas riram. Até eu tive que rir.
A encarregada da ronda enfiou a cabeça para fora da sala das enfermeiras e abanou-a quatro vezes, uma para cada uma de nós.
— Ronda de meia em meia hora — disse Georgina. — Assim é que seria bom.
— Um milhão de dólares também seria bom — disse Lisa Cody.
— Que lugar — disse Lisa.
Todo mundo suspirou.


 
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